domingo, 24 de janeiro de 2016

Planeta Nove? Ou Planeta X?

Desde o rebaixamento de Plutão, o nosso Sistema Solar deixou de ter nove planetas. Entretanto, a suposta existência de um novo planeta considerando gigante pode fazer com que o número de planetas volte a ser o que se pensava anteriormente, embora não seja a mesma coisa sem Plutão. Em duas publicações essa semana no periódico "The Astronomical Journal", astrônomos do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos, disseram ter encontrado "evidências sólidas" de um "nono planeta", que por sua vez teria uma órbita estranhamente alongada para este tipo de corpo celeste.

Os responsáveis por essas publicações foram Konstantin Batygin (29), astrofísico teórico e considerado um jovem "gênio" quando o assunto é modelagem computacional, e Mike Brown (50), um astrônomo observacional. Acredito que vocês não estejam nem um pouco familiarizados com esses nomes, não é mesmo?

O astrônomo observacional Mike Brown (à esquerda) e o astrofísico teórico Konstantin Batygin (à direita)
Saiba que Mike Brown foi apelidado de "assassino de Plutão" após ter liderado o estudo que fez com que o planeta mais distante que conhecíamos em nosso Sistema Solar fosse rebaixado a categoria de planeta-anão, deixando assim de ser um planeta como Netuno, Saturno ou a própria Terra. Aliás, Mike Brown chegou a publicar um livro, aproveitando-se da fama que havia ganhado, com o título de "How I Killed Pluto and Why It Had It Coming" ("Como Eu Matei Plutão e Por que Ele Mereceu Isso", em uma tradução literal para o nosso idioma).

Antes de prosseguirmos com esse assunto, no entanto, precisamos desfazer esse verdadeiro nó de "termos" sobre esse suposto novo planeta, que está circulando pelos mais diversos veículos de comunicação.

Um Breve Resumo Sobre a Origem dos Termos "Planeta X" e do "Planeta Nove"


Em 1846, o matemático francês "Urbain Le Verrier" previu a existência de um planeta gigante devido as irregularidades na órbita de Urano. Os astrônomos do Observatório de Berlim encontraram o novo planeta, Netuno, onde supostamente esse tal planeta deveria estar, o que provocou um verdadeiro frenesi na mídia. Vale ressaltar que a órbita e massa de Netuno foram previstas com base nas observações das perturbações orbitais de Urano.

Urbain Jean Joseph Le Verrier foi um matemático francês que se especializou em mecânica celeste, sendo mais conhecido
por prever a existência e a posição de Netuno usando apenas a matemática
As irregularidades remanescentes de Urano levaram os cientistas a pensarem que ainda poderia existir mais um planeta. Foi assim que entre 1905 a 1906, o magnata Percival Lowell, começou sua busca por aquilo que ele denominou de "Planeta X", em seu observatório em Flagstaff, Arizona, nos Estados Unidos. Neste caso, o "X" é realmente a "letra x" ("incógnita", na matemática), e não o número romano 10. Alguns astrônomos propuseram que as irregularidades observadas, assim como em outros gigantes gasosos, pudessem ser causadas por este planeta hipotético.

Percival Lowell em 1914, observando Vênus durante o dia, com seu telescópio refrator de 61 centímetros
da Alvan Clark & Sons, em Flagstaff, Arizona, nos Estados Unidos
Em 1930, Plutão apareceu, mas era demasiadamente pequeno para causar qualquer distúrbio na órbita de Urano. Mais de meio século depois, o sobrevoo de Netuno pela sonda espacial Voyager 2 permitiu obter uma medição mais precisa da massa desses planetas. Cálculos posteriores, baseados nestes novos valores, demonstraram que as irregularidades orbitais na verdade não existiam, ou seja, o "Planeta X" não era mais necessário.

Para a maioria dos astrônomos a hipótese do "Planeta X" foi cabalmente rejeitada quando as missões das sondas Voyager e Pioneer permitiram recalcular as massas dos gigantes gasosos, e não detectaram nenhuma forte atração gravitacional imprevista além da órbita de Netuno.

Mais de meio século depois, o sobrevoo de Netuno pela sonda espacial Voyager 2 permitiu obter uma medição mais precisa
da massa dos planetas Urano e Netuno
Esse breve resumo serve apenas para você saber diferenciar o que está sendo divulgado pela mídia. O termo "Planeta X" foi cunhado por Percival Lowell, no começo do século 20, como uma espécie de incógnita na tentativa de explicar as irregularidades orbitais de planetas gasosos. O termo "Planeta Nove" foi citado apenas recentemente e seria simplesmente a existência de um novo planeta, o nono em nosso sistema solar que possui apenas 8 planetas, uma vez que Plutão foi rebaixado a planeta-anão. Entenderam?

Muitos sites estão usando o termo "Planeta X" para significar a mesma coisa que "Planeta Nove", uma vez que existem certas coincidências por esse "nono planeta" ter uma órbita muito longa, uma massa supostamente 10 vezes maior que a Terra e supostamente estar localizado além de Netuno. Logo, o mais importante é você saber o que realmente ambos os termos significam. Tanto Mike Brown quanto Konstantin Batygin em diversas entrevistas se referem ao suposto novo planeta tanto como "Planeta X" quanto "Planeta Nove", talvez em uma tentativa de chamar a atenção da comunidade científica e valorizar o próprio trabalho respectivamente.

A revista Time chegou a dizer que Brown e Batygin preferiam que o planeta se chamasse George, em uma espécie de referência ao astrônomo britânico William Herschel, que descobriu Urano e queria nomeá-lo como Georgium Sidus (O Planeta Georgiano) devido ao rei George III. Porém, isso é algo que dificilmente seria aceito pela União Astronômica Internacional. Isso, é claro, se realmente houver um "Planeta X" ou "Planeta Nove".

A Descoberta de um "Planeta-Anão" Chamado Sedna


Boa parte dessa recente história sobre o suposto "Planeta Nove" começou quando em 2003, Mike Brown e sua equipe descobriram um planeta-anão chamado Sedna, que era o objeto mais distante já descoberto em nosso sistema solar. Sua órbita elíptica é tão grande que foi estimado que ele demore cerca de 11.400 anos para dar uma volta completa ao redor do Sol (como comparação o planeta-anão Plutão demora cerca de 248 anos e Netuno cerca de 164 anos). Brown também participou da descoberta dos planetas-anões Éris, cujo nome que vem da mitologia grega, a deusa da discórdia (não é a toa que ajudou a derrubar Plutão como planeta), Haumea e Makemake.

Imagem de Sedna registrada pelo Telescópio Samuel Oschin do Observatório Palomar, na Califórnia, em 2003
Sedna é um planeta-anão cujo diâmetro é estimado por volta 1.000 km, o que chega a ser menor que Plutão, que tem cerca de 1.186 km. Ele é um objeto do Cinturão de Kuiper (KBO), assim como Plutão, pertencente a uma vasta faixa de gelo e objetos rochosos, que cercam o nosso Sistema Solar,além da órbita de Netuno.

Apesar de usarmos o termo "planeta-anão", a União Astronômica Internacional (IAU) ainda não o designou formalmente como tal. O Minor Planet Center ("Centro de Planetas Menores"), uma organização que opera no Observatório Astrofísico Smithsonian, subordinada a própria União Astronômica Internacional, classifica Sedna como um objeto do "disco disperso", um grupo de objetos enviados a órbitas alongadas pela suposta influência gravitacional de Netuno.

Entretanto, desde sua descoberta essa classificação tem sido contestada, uma vez que Sedna nunca chegou perto de Netuno para que pudesse ter sido afetado pelo planeta de alguma forma. Alguns especulam que Sedna foi colocado em sua órbita atual por uma estrela, possivelmente do aglomerado em que o Sol nasceu, ou até mesmo que veio de outro sistema planetário. Outros, é claro, sempre foram um pouco mais radicais ao dizer que isso seria a evidência da existência de um grande planeta além da órbita de Netuno.

Mesmo sendo quase do tamanho de Plutão é muito difícil observar Sedna devido a sua distância do Sol. Seu periélio (ou perélio), que é o ponto da órbita onde um corpo celeste encontra-se mais próximo do Sol, é cerca de 76 UA. Já o seu afélio, que logicamente seria o ponto mais distante do Sol, é estimado em 937 UA. Para que vocês tenham uma ideia, o afélio de Netuno é cerca de 30 UA. Resumindo, a menor distância entre Sedna e o Sol chega a ser mais de duas vezes maior do que o ponto mais distante de Netuno em relação ao Sol, ou seja, Sedna está realmente muito, muito longe.

Não é tão difícil de entender quanto parece! Basta ter em mente que 1 UA é 1 "Unidade Astronômica", que por sua vez é referente a distância da Terra em relação ao Sol (aproximadamente 150 milhões de quilômetros). Essa "unidade" foi criada justamente para simplificar distâncias astronômicas muito grandes. Ficaria impraticável escrevê-las o tempo todo, não é mesmo? Então, basta sempre multiplicar o número que vem antes do UA por 150 milhões para ter a distância em quilômetros. Certo? 

Apesar de não sabermos o formato exato de Sedna, análises espectroscópicas revelaram que a composição da superfície de Sedna é parecida à de outros objetos transnetunianos, sendo principalmente uma mistura de gelo de água, metano e nitrogênio. Aliás, Sedna também teria uma das superfícies mais vermelhas do Sistema Solar. Porém, esse não é nosso objetivo nessa postagem, afinal Sedna não é o "Planeta Nove" em questão, porém é necessário que você o conhecesse, pois o mesmo colaborou para fomentar uma das hipóteses que citamos anteriormente. Justamente aquela da suposta existência de um grande planeta além da órbita de Netuno.

Imagem mostrando a localização aproximada do Cinturão de Kuiper,
lembrando que o mesmo é ocupa uma vasta região em nosso Sistema Solar
Isso tudo porque havia algo estranho com Sedna, bem, pelo menos em relação aos seus "vizinhos". Nos anos que se seguiram, os astrônomos descobriram outros cinco objetos pertencentes ao Cinturão de Kuiper, cujo ponto mais próximo do Sol de cada um deles correspondia quase perfeitamente ao de Sedna, tanto em distância quanto no ângulo de suas órbitas  (cerca de 30 graus de inclinação) em relação ao horizonte do sistema solar. Ao combinar Sedna com esses outros cinco objetos, Brown disse que ele descartou a possibilidade de estrelas como sendo as responsáveis pela "influência invisível". Para ele somente um planeta poderia explicar tais órbitas estranhas.

Um Rápido Comentário Sobre o Artigo de Scott Sheppard e Chad Trujillo


Agora vem a parte mais complicada da história, mas não se preocupem, será bem rápido.

Em 2014, Scott Sheppard e Chad Trujillo (um ex-aluno de pós-graduação de Brown) publicaram um artigo (C. A. Trujillo and S. S. Sheppard Nature 507, 471–474; 2014) descrevendo a descoberta do "2012 VP113", outro objeto que nunca chega perto do Sol. Sheppard, do Instituto Carnegie de Ciência, em Washington D.C, e Trujillo, do Observatório Gemini, no Havaí, ambos nos Estados Unidos, estavam bem conscientes das implicações.

Chad Trujillo, astrônomo do do Observatório Gemini, no Havaí,  e ex-aluno de pós-graduação de Mike Brown
Eles começaram a examinar as órbitas de dois objetos, juntamente com outros dez corpos celestes. Eles perceberam que, no periélio, todos eram bem próximos do plano de sistema solar no qual a Terra orbita, chamado de "eclíptica". Além disso, todos eles se moviam do "Sul" para o "Norte" ao passarem por aquele plano.

A eclíptica é a projeção sobre a esfera celeste da trajetória aparente do Sol observada a partir da Terra. A razão do nome provém do fato de que os eclipses somente são possíveis quando a Lua está muito próxima do plano que contém a eclíptica. O eixo eclíptico, por sua vez, é a reta perpendicular à eclíptica que passa pelo centro da Terra.

A eclíptica é a projeção sobre a esfera celeste da trajetória aparente do Sol observada a partir da Terra
No artigo, Sheppard e Trujillo destacaram a "aglomeração" peculiar e levantaram a possibilidade de que um grande planeta distante tinha agrupado os objetos próximos da "eclíptica", mas eles não se aprofundaram em relação a essa possibilidade. No entanto, no final do ano de 2014, Batygin e Brown começaram a discutir os resultados.

Ao traçar as órbitas dos objetos distantes, Batygin disse, que eles perceberam que o padrão notado por Sheppard e Trujillo "era apenas a metade da história". Não eram somente os objetos que estavam próximos da eclíptica em seus respectivos periélios, mas os periélios tinham sido fisicamente agrupados no espaço. No ano seguinte os dois secretamente discutiram sobre esse padrão e o que isso significava. Evidentemente, isso muito provavelmente renderia frutos, e foi exatamente o que aconteceu.

A Publicação da "Descoberta" de um Novo Planeta em Nosso Sistema Solar


Na última quarta-feira (20), Konstantin Batygin e Mike Brown publicaram a "descoberta" de um novo planeta em nosso Sistema Solar no periódico The Astronomical Journal (K. Batygin and M. E. Brown Astronom. J. 151, 22; 2016), baseando suas conclusões somente em relação a modelagem matemática e computacional que fizeram utilizando o supercomputador chamado CITerra, do próprio Caltech. Eles descreveram isso como uma espécie de antecipação de sua verdadeira descoberta através de telescópios, algo que poderia acontecer dentro de mais ou menos cinco anos, muito embora tenham admitido ao site "Popular Science" que isso poderia demorar até 15 anos para acontecer.

É importante que você saiba, independentemente da forma como a notícia está sendo divulgada, são apenas cálculos matemáticos, uma vez que o suposto planeta, apelidado de "Planeta Nove" ou "Planeta X" ainda não foi detectado ou sequer avistado. Isso ficou bem claro? Repetindo, ninguém ainda viu esse suposto novo planeta, mas os pesquisadores deduzem a sua existência a partir do modo como outros objetos do cinturão de Kuiper, aqueles seis objetos (Sedna e os outros cinco), que citamos anteriormente se movimentam. Aliás, eles chegaram a dar uma espécie de desculpa para todo esse "alarde".

"Podíamos ter ficado quietos e passado os próximos cinco anos procurando pelos céus por nós mesmos, esperando encontrá-lo. Porém, eu gostaria que alguém o encontrasse antes mesmo de mim", disse Mike Brown, em declaração a agência internacional de notícias "Associated Press" (AP).

"Eu quero vê-lo. Eu quero ver como ele se parece. Quero entender onde ele está, e acredito que isso possa ajudar", completou.

"Temos uma previsão. O que nós encontramos foi uma assinatura gravitacional do 'Planeta Nove', escondido na região periférica do Sistema Solar" disse Konstantin Batygin.

Suposta órbita do "Planeta Nove" conforme proposto pela nova simulação de Konstantin Batygin e Mike Brown
De suas três principais descobertas, Eris, Sedna, e agora, potencialmente, o "Planeta Nove", Brown disse que a última é a mais sensacional de todas.

"Matar Plutão foi divertido. Encontrar Sedna foi cientificamente interessante. Porém, esse caso, é muito melhor do que qualquer outro", disse Mike Brown em entrevista para a revista Science.

Esse novo planeta seria um gigante gasoso tão grande quanto Netuno, e orbitaria a bilhões de quilômetros de distância da órbita do oitavo planeta: longe o bastante para levar entre 10.000 a 20.000 anos para dar uma volta completa em torno do sol. Com uma órbita dessas esse suposto planeta nunca iria chegar mais perto do que cerca de 200 vezes a distância Terra-Sol, ou 200 unidades astronômicas (UA). Essa faixa iria colocá-lo muito além de Plutão, no reino de corpos gelados conhecido como o Cinturão de Kuiper, logo o Planeta "9" poderia vagar entre 600 a 1200 UA, muito além de Netuno, que está a cerca de "apenas" 30 UA. Além disso, o suposto planeta teria cerca de 10 vezes a massa da Terra ou 5.000 vezes a massa de Plutão.

Simplificando: O "Planeta Nove" estaria 20 vezes mais longe que Netuno, o oitavo planeta no Sistema Solar. Estima-se que ele esteja de 32 bilhões a 160 bilhões de quilômetros de distância da Terra. Além disso, por estar mais longe do Sol, sua visibilidade é ainda menor.

Mike Brown apontando para a órbita dourada que seria do suposto "Planeta Nove" ou "Planeta X"
Durante a "infância" do Sistema Solar há 4,5 bilhões de anos, disseram Konstantin Batygin e Mike Brown, o planeta gigante foi jogado para fora da região de formação planetária perto do Sol. Desacelerado devido aos gases, o planeta estabeleceu em um órbita elíptica distante, onde ainda se esconderia até os dias de hoje.

"Se eu lesse uma publicação assim, do nada, minha primeira reação seria dizer que era maluquice, mas se você olhar para as evidências e as estatísticas, é muito difícil de chegar a qualquer outra conclusão", disse Mike Brown, em entrevista para a revista Nature.

Assista ao vídeo divulgado pelo Caltech (em inglês):

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Konstantin Batygin e Mike Brown ainda disseram que os periélios correspondentes têm apenas uma probabilidade de 0,7% de ocorrer por acaso; os ângulos correspondentes têm apenas uma chance de 1%. Resumindo, na prática existiria uma chance de apenas 0,007%, ou cerca de uma em 15.000, que um agrupamento assim pudesse ser uma coincidência.

"Foi muito emocionante notar esta coleção de objetos neste arranjo super obscuro. As órbitas estão fisicamente alinhadas no espaço", disse Brown, em entrevista para a revista Time.

"O 'Planeta Nove' faz parte da família do sol. O aglomerado de nascimento do Sol se transfomou de modo que ele foi colocado em uma órbita distante. Estava por lá esse tempo todo, e tem testemunhado o desenvolvimento do sistema solar de longe", continuou.

"A existência de outro planeta tem sido comentada por mais de 100 vezes antes disso. Porém, esta é a primeira vez em 150 anos que nós podemos dizer que temos provas convincentes de que o 'censo' do sistema solar está incompleto", completou Brown.

Alessandro Morbidelli, um especialista em Dinâmica Orbital da Universidade da Côte d'Azur, em Nice, na França, que analisou a publicação detalhadamente, disse que também está "bastante convencido" de que o planeta existe.

Será que Existe Realmente um Novo Planeta?


Muitos veículos de imprensa estão noticiando como se a descoberta de um novo planeta fosse certa. Entretanto, outros cientistas e astrônomos não têm tanta certeza assim.

"Tenho visto muitas e muitas alegações como essa ao longo da minha carreira. E todas elas estavam erradas", disse Hal Levison, cientista planetário no Instituto de Pesquisa Southwest em Boulder, Colorado, nos Estados Unidos.

O cientista planetário David Jewitt, que descobriu os primeiros objetos no Cinturão de Kuiper juntamente com Jane Luu (uma astrônoma vietnamita radicada nos Estados Unidos), está igualmente cauteloso. A chance de 0,007% que o agrupamento dos seis objetos ser uma coincidência dá ao suposto planeta uma relevância estatística de "3,8 sigma" - superior ao limiar de "3-sigma" - normalmente necessário para ser levado a sério, mas bem abaixo do "5-sigma" que às vezes é utilizado em determinados campos como a Física de partículas. Isso preocupa Jewitt, que tem visto muitos resultados de estudos "3-sigma" sendo completamente descartados.

O cientista planetário David Jewitt, que descobriu os primeiros objetos no Cinturão de Kuiper juntamente com Jane Luu,
recebendo o Prêmio Shaw em 2012 pela "descoberta e caracterização de corpos transneturianos, um tesouro arqueológico
que remonta à formação do sistema solar"
"Ao reduzir os doze objetos analisados por Sheppard e Trujillo para apenas seis em suas análises, Batygin e Brown enfraqueceram a própria alegação", disse Davide Jewitt, em entrevista para a revista Science.

"Fico preocupado que a descoberta de um novo e mero objeto, que não esteja nesse grupo, venha a destruir tudo o que foi deduzido. Esse é um jogo de varetas com apenas seis varetas", completou.

À primeira vista, um outro potencial problema vem do "Explorador de Pesquisas em Infravermelho com Banda Larga" (WISE) da NASA, um satélite que completou um levantamento de todo o céu procurando por calor de anãs marrons ou planetas gigantes. De acordo com um estudo realizado por Kevin Luhman, astrônomo da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 2013, o WISE descartou a existência de um planeta maior ou igual ao tamanho de Saturno, que estivesse a uma distância de pelo menos 10.000 UA. Entretanto, Luhman observou que, se o "Planeta Nove" tiver um tamanho igual ou menor que Netuno, assim como Batygin e Brown disseram, isso teria passado desapercebido pelo WISE. Luhman disse que está analisando novamente os dados para ver se consegue descobrir alguma coisa nesse sentido.

O "Explorador de Pesquisas em Infravermelho com Banda Larga" (WISE) da NASA,
lançado ao espaço no dia 14 de dezembro de 2009
Mesmo se Batygin e Brown consigam convencer outros astrônomos que tal planeta existe, eles enfrentam outro desafio: explicar como ele acabou indo parar tão longe do Sol. Em tais distâncias, o disco protoplanetário de gás e poeira era bem provável que estivesse demasiadamente espesso para "alimentar o crescimento de planetas". Além disso, devido a sua movimentação e órbita extremamente longas talvez ele não tivesse material suficiente para se tornar um gigante.

Em vez disso, Batygin e Brown propuseram que o Planeta "9" teria se formado muito mais próximo do sol, ao lado de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Os modelos de computador mostraram que o Sistema Solar primitivo era como uma "mesa de bilhar tumultuada", com dezenas ou mesmo centenas de "blocos de construção planetários" do tamanho da Terra saltando ao redor. Outro planeta gigante embrionário poderia facilmente ter se formado lá, e ter isido "chutado" para longe por algum outro gigante gasoso.

"É uma boa sacada, as estatísticas são favoráveis, mas é preciso ter muita cautela. A dupla usou seis objetos apenas e, com esses seis, a margem de confiança das simulações é boa, mas se forem acrescentados os demais objetos conhecidos, as simulações não garantem mais a existência de um novo planeta. Pesa também o fato de o satélite Wise ter procurado pelo tipo de planeta que eles afirmam que existe e não ter encontrado nada", avaliou Cassio Barbosa, astrônomo e colunista do Portal G1.

Diagrama publicado pela revista Science referindo-se a um possível "Planeta X", que seria nesta ocasião equivalente
ao que a mídia também está divulgando como "Planeta Nove"
De qualquer forma sem uma observação que possa constatar sua existência, a mesma ainda é uma descoberta teórica. A maioria dos telescópios capazes de ver um objeto escuro em tais distâncias, como o Telescópio Espacial Hubble ou os telescópios de 10 metros do Observatório Keck, no Havaí, nos Estados Unidos possuem campos de visão extremamente pequenos. Seria como procurar uma agulha em um palheiro olhando através de um canudo.

Entretanto, um telescópio pode ajudar: o "Subaru", um telescópio de 8 metros no Havaí, que é de propriedade do Japão. Ele tem uma área de captação de luz suficiente para detectar um objeto tão leve, juntamente com um enorme campo de visão que é 75 vezes maior que a de um telescópio Keck. Isso permite que os astrônomos digitalizem vastas regiões do céu a cada noite. Batygin e Brown estão usando o Subaru para procurar pelo "Planeta Nove" ao lado de Sheppard e Trujillo, que também se juntaram à caçada. Mike Brown disse que vai levar pelo menos 5 anos para que as duas equipes vasculhem a maior parte da região onde o "Planeta Nove" poderia estar se escondendo.

O Telescópio "Subaru" (à direita) ao lados dos Telescópios Keck (à esquerda), localizados no cume do monte Mauna Kea,
no Havai, Estados Unidos da América
"Descobrir esse planeta será um desafio para a próxima geração de telescópios, talvez nem mesmo o Subaru consiga ver alguma coisa. Brown tem a obsessão em descobrir um novo planeta. Que isso não o cegue diante das evidências em contrário apontadas pela academia. Mas certamente é a pessoa certa para esse trabalho", completou Cassio Barbosa.

É, Assombrados, assim como vemos em diversos outros mistérios no âmbito da astronomia, esse parece ser mais um que ouviremos falar em breve, seja para confirmar sua existência, seja para descartá-la. Será que assim como Netuno, a matemática será a grande responsável, tendo fundamental importância na descoberta do "Planeta 9" ou "Planeta 10"?

Atualização #1: 22/01 - 11h07


A NASA avisou por meio de um vídeo publicado ontem em sua conta oficial no Youtube, que as alegações de um novo planeta que estaria escondido em nosso sistema solar são prematuras. A agência espacial norte-americana advertiu que a controversa publicação do Caltech alegando a existência um nono planeta além de Plutão foi "apenas uma previsão". Jim Green, diretor de Ciência Planetária da NASA, comentou sobre as novas descobertas.

"O documento publicado no dia 20 de janeiro no Astronomical Journal stá alimentando nosso interesse em relação a exploração planetária. Fomentar um debate saudável faz parte do processo científico. Iss não é, no entanto, a detecção de uma nova planeta. É muito cedo para afirmar com certeza que há um chamado 'Planeta X' lá fora", disse Green. Assista a declação (em inglês):


Ele prometeu que especialistas da NASA vão fazer parte desse processo para tentar encontrá-lo.

"É tudo uma questão de iniciar o processo que poderia levar a um resultado existente. Se o 'Planeta X' está lá fora, nós vamos encontrá-lo juntos", completou.

Alan Stern, cientista planetário do Instituto de Pesquisa Southwest, que é o principal investigador da missão 'New Horizons' da NASA a Plutão e aos confins do Sistema Solar, deu novas declarações ao site GeekWire por email.

"Isso é quinta ou a décima previsão sobre isso... Nenhuma delas deu certo", disse Alan Stern.

"Se conseguirem encontrá-lo, ele será o número 19, não o número 9. E se ele for encontrado, ele vai confirmar dezenas de estudos prevendo que a Nuvem de Oort está repleta de planetas, e que o sistema solar gerou dezenas de centenas deles", completou.

A nuvem de Oort, também chamada de nuvem de Öpik-Oort, seria uma nuvem esférica de planetesimais voláteis que se acredita estar localizada a cerca de 50 000 UA, ou quase um ano-luz, do Sol. Isso significa que ela estaria a aproximadamente um quarto da distância a Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol. O cinturão de Kuiper e o disco disperso, as outras duas regiões do Sistema Solar que contêm objetos transnetunianos, localizam-se a menos de um milésimo da distância estimada da nuvem de Oort.

Embora não se tenha feito nenhuma observação direta da nuvem de Oort, ela pode ser a fonte de todos os cometas de longo período e de tipo Halley que entram no Sistema Solar interior, além de muitos centauros e cometas de Júpiter.


Fontes:
www.assombrado.com.br

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