sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Assassinato de Kennedy alimenta teorias da conspiração há 50 anos

Apesar de autoridades concluírem que Lee Oswald agiu só, versões ligadas a CIA e máfia têm apelo entre americanos
A ação que resultou na morte do presidente americano Jonh F. Kennedy em 1963 durou poucos segundos, mas as especulações e dúvidas sobre o crime perduram até hoje – e provavelmente vão continuar por muitos anos. As teorias da conspiração começaram em 1964, logo após o fim das primeiras investigações oficiais, e parecem ter convencido a maioria dos americanos.



Reprodução
Integrantes da Comissão Warren entregam relatório sobre assassinato do presidente John F. Kennedy ao presidente Lyndon Johnson
Segundo uma pesquisa de opinião da rede ABC News de 2003, 70% dos entrevistados acreditavam que o assassinato não havia sido obra de um atirador solitário. Estima-se que já foram publicados 2 mil livros sobre a morte de JFK e que 95% são pró-teorias da conspiração.
Os fatos incontestáveis são poucos: o presidente foi assassinado em 22 de novembro ao ser atingido por duas balas, uma na cabeça, outra no pescoço. No momento, ele participava de uma carreata dentro da limousine presidencial sem capota em Dealey Plaza, Dallas, Texas.
Um ex-marine chamado Lee Harvey Oswald foi oficialmente acusado do assassinato e, segundo o chefe da primeira comissão de investigação, Earl Warren, ele agiu sozinho. O comitê concluiu que Oswald disparou três vezes, sendo que errou o primeiro tiro. O atirador estaria escondido no sexto andar de um depósito de livros com vista para o trajeto da carreata, armado com uma espingarda manual Mannlicher, de fabricação italiana, com mira telescópica.
O fato de Oswald ter sido assassinado dois dias depois de preso, durante sua transferência para a prisão – portanto, antes de ter sido julgado, e sem ter respondido a muitas das dúvidas em relação ao crime – alimenta grande parte das teorias conspiratórias.
Além disso, em 1978 uma outra comissão do governo, o Comitê de Assassinatos da Câmara dos Representantes, concluiu que, além de Oswald, era possível a existência de um segundo atirador. A comissão concluiu que este provável atirador seria parte de uma “conspiração”, mas não chegou a especificar quem exatamente estava por trás do ataque.
Soma-se a isso a grande quantidade de evidências públicas do crime, incluindo o vídeo do momento do disparo fatal até diversas fotos da autopsia disponíveis na internet. Portanto, não é surpresa que inúmeros interessados conduzam investigações próprias e cheguem a resultados diferentes.
O número de tiros
O primeiro ponto polêmico é a quantidade de tiros de fato disparados. Pelo áudio de gravações do momento do crime, especialistas independentes e parte da segunda comissão do governo chegaram à conclusão de que foram quatro disparos. O número de feridos também parece corroborar essa afirmação – além do presidente, que levou dois tiros, foram atingidos um cidadão comum que assistia ao desfile e o então governador do Texas, John Connally, que ia na parte da frente do carro de Kennedy.


Fato de Lee Oswald ter sido morto logo após assassinato de Kennedy alimentou teorias conspiratórias
Como a perícia confirmou que a arma apreendida com Oswald só havia disparado três vezes, surgiu a teoria de um segundo atirador. O curto intervalo de tempo entre os tiros, estimado em apenas seis segundos, também sugeriria a impossibilidade de os tiros terem sido feitos por um único homem com uma arma manual.
Em resposta a essas suposições, as autoridades americanas dizem que o quarto som é um barulho aleatório de fundo. Sobre os feridos, a primeira bala teria atingido uma árvore, ricocheteado e ferido o cidadão. O segundo tiro teria entrado no pescoço de JFK por trás, saído, e então atingido o governador Connally (por causa dessa trajetória, os críticos a chamam ironicamente da “a bala mágica”). O terceiro teria sido o tiro fatal, que atingiu Kennedy na cabeça e o matou. E o tempo teria sido suficiente para um atirador experiente recarregar a arma. Há investigações recentes que ratificam e outras que discordam da versão oficial.
Uma das que estão de acordo com a versão de três tiros e um único atirador é a do historiador Max Holland, divulgada em 2001. Ele obteve imagens feitas no dia do assassinato de JFK mostrando uma pessoa – e apenas uma pessoa – se movimentando no sexto andar do depósito de onde teriam vindo os disparos. Oswald, que era empregado do local, fez uma compra por correio em março de 1963 de um rifle. E segundo Holland, analisando com tecnologias modernas as gravações da época, o intervalo entre o primeiro e o terceiro disparo foi de 11 segundos, e não 6, como alegam algumas teorias da conspiração.
Entre as investigações recentes contrárias à versão oficial está a de D. B. Thomas, também de 2001. Em um estudo divulgado na publicação oficial da Sociedade Britânica de Ciência Forense, ele afirma que houve sim um quarto tiro – e, ao fazer a sincronia entre as diversas gravações de áudio obtidas, foi esse último tiro que de fato matou Kennedy.
Em 2007, outro estudo veio lançar dúvidas sobre o já polêmico caso: em uma pesquisa publicada no Annals of Applied Statistics, três peritos concluíram que os cinco fragmentos de chumbo encontrados na limousine presidencial “podem vir de três ou mais balas distintas”, enquanto a investigação oficial diz que os fragmentos vieram apenas de duas balas disparadas por Oswald.
A real autoria do ataque
Além das contestações técnicas, há uma grande variedade de teorias sobre quem estaria por trás do assassinato de Kennedy. Quem teria ordenado ou ajudado Oswald a matar o presidente americano?
Alguns acreditam que a CIA foi quem armou tudo, porque JFK estaria batendo de frente com seus diretores. Há ainda quem defenda que o presidente estaria a ponto de levar a público os arquivos secretos do serviço de inteligência referentes a descoberta de ovnis. De qualquer forma, teorias que implicam a CIA ficaram tão populares que a agência publicou em seu site oficial um texto negando o envolvimento com o crime, e culpando a esquerda da Europa e a mídia por espalharem tais rumores.
Outros órgãos e autoridades americanas também são alvo de acusações extra-oficiais de envolvimento, como o Federal Reserve (porque Kennedy teria assinado uma medida tirando parte da autoridade do banco), o vice-presidente da época, Lyndon B. Johnson (pois, supostamente, ele queria chegar à presidência a qualquer custo), e políticos que viriam a se tornar presidentes, como George H. W. Bush e Richard Nixon.
Cubanos exilados anti-Castro e membros da máfia, descontentes com as políticas de Kennedy, constam na lista de interessados na morte. Uma das razões pelo surgimento de teorias envolvendo a máfia está relacionado ao fato de que Jack Ruby - o homem que matou Lee Harvey Oswald antes de seu julgamento - era gerente de casas de prostituição ligadas aos mafiosos.



Uma das teorias apontava o líder cubano Fidel Castro como um dos mentores do assassinato de Kennedy
Do exterior, o principal “suspeito” é a KGB, serviço secreto da antiga União Soviética. Em meio ao período da Guerra Fria (1945-1990), essa se tornou uma hipótese popular. Além da óbvia rivalidade entre as potências, colaborou para o crescimento dessa teoria o fato de Oswald ter fugido para a União Soviética enquanto era marine americano, ter morado lá por três anos, ter se casado com uma russa e, então, retornado aos EUA. Um oficial da inteligência soviética que desertou para os Estados Unidos, general Ion Mihai Pacepa, chegou a dizer que Oswald seria um agente treinado pela KGB.
Outra teoria sustentou que o então líder cubano Fidel Castro teria sido autor do assassinato do americano. Um dos defensores desta versão era o sucessor de Kennedy, Lyndon Johnson. “Kennedy estava tentando apanhar Castro, mas Castro apanhou Kennedy primeiro”, disse em uma etrevista a ABC News em 1968. As duas comissões realizadas pelo governo inocentaram o governo cubano de qualquer envolvimento.
iG apresenta essa semana um especial com repórtagens e infográficos sobre os 50 anos do assassinato de John F. Kennedy. Na quarta-feira (20), saiba mais sobre as “maldições” que pairam sobre a família do presidente americano

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